A mudança de comportamento que é necessário ver de modo a criar uma economia circular?

A economia circular é uma mudança de paradigma do comportamento e conforme a sociedade perceciona a produção e consumo de bens e serviços.

Por conseguinte, este sistema requer mais do que uma mera dedicação à reciclagem de produtos no fim da sua vida útil.

É uma mudança estrutural, relativamente à forma de como pensamos no que se refere ao processo de criação dos produtos.

A economia circular integra a sustentabilidade desde a forma como se obtém as matérias-primas até ao seu “design” e fabrico.

Por fim a mudança de paradigma da reutilização do produto ,no fim do seu ciclo de vida, como input para a nova geração de produtos.

Na sua base, a economia circular inegavelmente requer que a sociedade seja capaz de mudar a sua mentalidade assim como o seu comportamento relativamente à forma como nos abastecemos, criamos, usamos e nos alienamos da infinidade de produtos que nos rodeiam.

Em síntese, a economia circular tem três grupos de stakeholders base, Produtores, Consumidores e o Governo.

O problema central relativamente aos produtores, liga-se aos seus direitos perentórios de shareholders.

Para colmatar este problema, desenvolveu-se muito trabalho nesta área macroeconómica, para que desse modo demonstrar os benefícios financeiros que a economia circular tem para os negócios e empresas. Estudos esses desenvolvidos por organizações como a Ellen MacArthur Foundation.

Para o governo, a economia circular, é conceituada através de iniciativas da comissão europeia como a – Circular Economy Strategy, assim como políticas e estratégias dos próprios governos locais. No entanto, muito ainda terá que ser feito em relação à liderança e legislação.

Por fim, a perspetiva do consumidor e o seu comportamento, sendo o aspeto central neste artigo.

Uma série de questões e aspetos são levantados relativamente à forma como este sistema é recebido e a necessidade de envolvência por parte do consumidor de modo a que um balanço possa ser criado.

Este balanço é fundamental para sucessivamente suportar as outras duas dimensões.

Assim como o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, reivindica acreditar, “dificilmente a mudança de comportamentos em prol da sustentabilidade ambiental acontece com proibições”.

Suporta a ideia de uma fiscalidade que premeie bons comportamentos ao inverso de uma penalizadora.

Desta forma assume-se que a punição não entra na equação, o que dá espaço a novas formas e novas adoções de estratégias como reforço positivo.

O objetivo do Governo é chegar a acordos voluntários com determinados grupos de empresas.

De certa forma a mesma convicção pode ser aplicada, na forma como o consumidor é influenciado.

Não seriam políticas de censura que faria a diferença, mas sobretudo políticas e ações de sensibilização e consciencialização.

Na democracia, existem diferentes ações que os consumidores podem realizar para enviar sinais aos produtores e ao governo sobre a forma da economia com a qual desejam viver.

As formas de ação são:

  • Decisões de consumo direto relativamente à compra de produtos que fazem parte da Economia Circular.
  • Influência de médio prazo no processo político para apoiar e criar uma Economia Circular.
  • Decisões de longo prazo na escolha de fundos e investimentos que apoiem ​​a Economia Circular.

O que isso pode significar num nível prático de comportamento ,é que os consumidores usariam preferencialmente:

  • O Poder de compra, para comprar produtos que estejam alinhados com práticas  de Economia Circular
  • Poder político, para fazer lobby junto aos responsáveis da tomada de decisão
  • Estabelecer grupos de pressão nas redes sociais
  • Garantir que as compras do governo local estejam em conformidade com a Economia Circular
  • Atitude de voto alinhado com a Economia Circular
  • Poder de Investimento para garantir que os gestores financeiros invistam dinheiro e fundos de pensão em empresas que caminham para uma Economia Circular.

Para atingir estas ações de consumidor, na criação de uma Economia Circular, será necessário mudar precisamente o comportamento dos consumidores. Dado que numa democracia, “empurrar” as pessoas, revela-se ser mais difícil, ao invés de envolvê-las e criar uma mudança cultural onde a mudança de facto aconteça, dado que esta categoria de abordagem tende a ter efeitos mais permanentes.

VALORES, ATITUDES, CRENÇAS E COMPORTAMENTOS

Uma maneira é pensar em cada indivíduo como um nexo de Valores, Atitudes, Crenças e Comportamentos. As pessoas mudarão quando virem um bom motivo para tal, e sentirem a relevância da mudança.

Lidar com mudanças em grande escala, muitas vezes é a rota comportamental mais eficaz.

Mudar o comportamento pode ser um estímulo para mudar as atitudes (se agirmos, vamos justificar o nosso novo comportamento de forma a manter a nossa autoimagem), tanto quanto alterar as atitudes pode resultar em mudanças no comportamento.

À medida que as atitudes mudam, igualmente mudam os Valores e as Crenças. O comportamento é uma abordagem mais acessível, em simultâneo, é mais simples de definir, ver e medir a mudança de comportamento do que alterar os outros componentes do nexo VACC.

Implícito nisso, está que uma mudança de comportamento precisa de se alinhar com os valores, atitudes e crenças das pessoas para ter algum efeito duradouro.

A mudança a este nível precisa de passar por cinco etapas fundamentais:

  1. Consciencialização – Saber que existe um desafio
  2. Aceitação – entender as premissas e os problemas
  3. Habilidade – conseguir agir no desafio
  4. Ação – faça ações realizáveis ​​e significativas
  5. Avaliação – obtenha feedback de que a mudança positiva acontece

Nesse sentido, a questão de como mudamos o centro de gravidade do modelo de consumo do indivíduo e da cultura para abraçar o conceito de economia circular é um elemento-chave para alcançar a mudança.

O centro do argumento apresentado, é que apesar dos entraves e impasses, criar e sustentar a mudança de comportamento a nível individual e cultural é uma parte essencial da concretização da economia circular.

É com a natureza humana, com as pessoas, que decerto se deve trabalhar para criar a economia circular, bem como a estratégia corporativa e governamental, e as iniciativas políticas.

Em teoria, a legislação poderia desse modo ser usada para ordenar e criar a economia circular.

Numa sociedade democrática, o processo político ,pode dificultar isso, embora certamente tenha um papel a desempenhar.

Primordialmente, o foco é constatar o impacto que a mudança, de baixo para cima, do ponto de vista humano, tem no alcance da Economia Circular.